10 de março de 2009

Bernardo Carvalho diz que "gay não lê"

"A literatura é a possibilidade de escapar de um lugar no mundo, que é humano e restrito. Nenhum livro meu deixa de ter relação homossexual. Mas não quero o rótulo. Se você o aceita, funciona mercadologicamente. Não sei se explodiria, até mesmo porque gay não lê. O meio gay não é especialmente letrado. Serei assassinado por dizer isso", afirmou o escritor Bernardo Carvalho.

Será verdade que os gays não lêem? Talvez se possa até argumentar que os gays brasileiros não tenham tanto esse hábito porque o brasileiro em geral não cultive muito a leitura. Porém, desconfio que Bernardo Carvalho tenha uma parcela de razão. Gays, com raríssimas exceções, se dedicam aos prazeres da literatura. Preferem os diversos prazeres mundanos. A literatura (e não falo só de literatura gay, mas da literatura, simplesmente) demanda solidão para ser apreciada. Quantos gays hoje estão dispostos a sacrificar boa parte de seu tempo frequentando bibliotecas, sebos ou livrarias e não festas, baladas, academias, bares, saunas e praias - que hoje se tornaram os points associados a uma "cultura gay"?

Por outro lado, acho muito chato que Carvalho, um excelente crítico (infelizmente ele não publica mais sua coluna na Folha) e bom escritor contemporâneo, cujos romances são predominantemente homoeróticos, desconverse tanto e sempre rejeite o rótulo de gay. O escritor Alan Hollinghurst, inglês, autor dos magníficos A Biblioteca da Piscina e A Linha da Beleza (que virou minissérie) não me parece tão cheio de dedos quando o assunto é homossexualismo. De resto isso é um defeito de escritores brasileiros famosos. Não se trata de deixar o armário, mas de ser francos a respeito de certos temas. Eles vivem em cima do muro e adotam discurso neutro. João Silvério Trevisan é o único que dá maior visibilidade ao tema, com posicionamento claro, evidente. Não que essa "neutralidade" reduza o valor dos livros de Bernardo Carvalho, mas com certeza, tira o brilho do escritor. Será que no Brasil nunca teremos um escritor com a grandeza moral de um Gide?

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