11 de março de 2009

A legítima defesa da "honra"

O número de assassinatos de homossexuais no Brasil cresceu 50%, segundo levantamentos divulgados pelo GGB (Grupo Gay da Bahia). Tais números constam como dados preliminares do relatório anual sobre intolerância no país, que o GGB antecipou, a pedido da Secretaria de Estado Norte Americana.

O levantamento revela que em 2008 houve o assassinato de 186 homossexuais. Praticamente 50% a mais que 2007, quando foram registradas 122 mortes. Mas outros dados ainda devem ser contabilizados, o texto aguarda sua finalização, ou seja: essa estatística pode crescer ainda mais.

Vale destacar ainda que a Secretaria Norte Americana recolhe esses dados junto ao GGB pois as chamadas autoridades brasileiras não tem sequer dados oficiais sobre o assunto, o que apenas reforça a opinião dos militantes sobre o descaso oficial em relação ao tema. Os números apresentados serão usados no Congresso Norte-Americano, que anualmente divulga dados sobre a discriminação por orientação sexual que ocorre nos países com quem os Estados Unidos mantêm relações diplomáticas.

Pernambuco é o estado com o maior índice de crimes: 27 assassinatos, seguido logo de perto pela Bahia, com 23, e por São Paulo, com 19 mortos. O GGB afirma que o Brasil é o campeão mundial em homicídio de homossexuais. Com o agravante de que nem 10% dos criminosos chega a ser preso, geralmente alegando a legítima defesa da honra para justificar os seus crimes.

Tudo isso me faz lembrar dum poema de Eugénio de Andrade, o belíssimo e indignado Réquiem para Pier Paolo Pasolini:

Eu pouco sei de ti mas este crime
torna a morte ainda mais insuportável.
Era novembro, devia fazer frio, mas tu
já nem o ar sentias, o próprio sexo
que sempre fora fonte agora apunhalado.


Um poeta, mesmo solar como tu, na terra
é pouca coisa: uma navalha, o rumor
de abril podem matá-lo - amanhece,
os primeiros autocarros já passaram
as fábricas abrem os portões, os jornais
anunciam greves, repressão, dois mortos na
primeira página, o sangue apodrece ou brilhará
ao sol, se o sol vier, no meio das ervas.

O assassino, esse seguirá dia após dia
a insultar o amargo coração da vida;
no tribunal insinuará que respondera apenas
a uma agressão (moral) com outra agressão,
como se alguém ignorasse, excepto claro
os meritíssimos juízes, que as putas desta espécie
confundem moral com o próprio cu.

O roubo chega e sobra excelentíssimos senhores
como móbil de um crime que os fascistas,
e não só os de Saló, não se importariam de
assinar.


Seja qual for a razão, e muitas há
que o Capital a Igreja e a Polícia
de mãos dadas estão sempre prontos a justificar,
Pier Paolo Pasolini está morto,
A farsa, a nojenta farsa, essa continua.

Nenhum comentário:

Postar um comentário