18 de outubro de 2009

Dois






Lançamento em DVD: Flesh (1968), de Paul Morrissey


Acaba de ser lançada no Brasil em DVD a trilogia (Flesh - Trash - Heat) de Paul Morrissey encabeçada pelo ator-fetiche de Andy Warhol, o lindíssimo Joe Dallesandro.
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O primeiro do pacote é o breve, belo e provocativo Flesh (1968), um filme totalmente cult, todo realizado em locações pelas ruas de Nova York, a estreia como cineasta de Paul Morrissey, já que o próprio Warhol não tinha mais tempo ou disposição para filmar pessoalmente, embora quisesse rodar estes filmes.
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Joe Dallesandro faz um atraente garoto de programa que vai para as ruas tentar descolar uns encontros. Ele tenta arrecadar dinheiro para pagar o aborto da namorada da namorada. Isso que você leu não é um erro de digitação. A namorada é da namorada dele. As duas garotas dividem a cama na cena final, ao lado do rapaz exausto.
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Mas há muito mais. Embora se possa dizer que nada de realmente relevante aconteça no filme. Não é o enredo que realmente conta, mas a forma poética com que Morrissey faz o filme fluir. Há a belíssima cena de Joe pela manhã brincando com o filho. Esta imagem ilustrava o pôster original do filme e é até hoje uma das mais belas representações da paternidade já criadas.
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Há a sequência - hilária - em que Joe é boqueteado por uma cliente enquanto a transformista Candy Darling, totalmente indiferente, folheia uma velha revista de fofocas hollywoodianas num sofá, trocando figurinhas com outro ser andrógino. Uma cena que é puro Almodóvar, décadas antes de Almodóvar.
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Um senhor idoso, que se apresenta a Joe como artista plástico, convida-o para posar para ele, e somos agraciados com magníficas imagens da gloriosa nudez do rapaz enquanto ele se mantém estático, e de quebra ouvimos algumas opiniões sobre arte - que nos fazem pensar em Warhol.
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Flesh é um filme que impressiona por sua simplicidade e despojamento, além de estar inteiramente na contramão da cultura americana da época. Tem uma estética irônica e ousadamente homoerótica, como grande parte do que Warhol produzia nos anos 60.
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Uma pequena curiosidade sobre o filme: a capa do primeiro álbum dos Smiths, The Smiths (1984), mostrando Joe Dallesandro sem camisa, foi tirada de um dos frames de Flesh.


17 de outubro de 2009

Bolas







Incêndio no Rio destrói obras de Hélio Oiticica



Um incêndio que só foi contido neste sábado consumiu um acervo de 2.000 obras de arte, além de manuscritos, notas e livros do artista plástico, pintor e escultor Hélio Oiticica (1937-1980).

O incêndio consumiu a casa do irmão do artista, César Oiticica, onde o acervo estava sendo guardado. O prejuízo foi de cerca de 200 milhões de dólares, estima César, inconsolável. Mas a pior perda foi a da cultura brasileira, disse ele.

Oiticica era um contestador. Avesso à pintura em tela, considerava os quadros envelhecidos e saturados "após séculos de paredes". Fez a pintura saltar para fora das telas criando os "relevos especiais" (placas penduradas nos tetos) e os chamados Penetráveis - labirintos. Tais trabalhos inovadores exigiam a interação das pessoas. A mais famosa dessas obras acabou sendo Tropicália, termo inventado por Hélio Oiticica que Caetano Veloso e Gilberto Gil depois utilizariam para batizar o famoso movimento que encabeçaram.

Outras das criações ousadas de Hélio foram os Bólides, caixas de madeira, metal e vidro. Uma delas era dedicada a Cara de Cavalo, assaltante morto a tiros pela polícia. Dentro da caixa há várias fotos de Cara de Cavalo, que foi amante do pintor, caído ensanguentado. Oiticica morreria de derrame, em 1980.

Hélio Oiticica, que cultivava uma visão romântica e maldita da marginalidade, declarou que "o crime é a busca desesperada da felicidade autêntica, em contraposição aos falsos valores sociais".

Os Parangolés, peças de pano ou plástico usáveis também se tornaram, com o tempo, trabalhos muito conhecidos do artista. Envergados por passistas de escola de samba ou por cantores como Adriana Calcanhotto e Caetano Veloso, foram criados para dar movimento e liberdade às cores.

Avalia-se que foram destruídas pelo fogo 90% do total de suas produções. As peças não estavam seguradas. Trata-se de um fim trágico para uma arte rebelde. Uma verdadeira segunda morte. Um desastre de proporções incalculáveis para a cultura brasileira.







7 de outubro de 2009

Boom Boom








Lançamento/CD: Partimpim Dois (2009), de Adriana Calcanhotto

Um é bom. Dois é bom demais. Em 2004 a cantora Adriana Calcanhotto deixou de lado as baladas românticas que emplacava com sucesso e gravou o primeiro Partimpim. Um disco mágico, para crianças "de todas as idades". Vendeu pavores, espantosamente, em plena época do mp3 e dos programas de compartilhamento de arquivos disseminados pela Internet.

Agora em 2009, logo depois do lançamento do ótimo e adulto Maré (2008), Adriana volta ao universo das crianças de todas as idades com este Partimpim Dois, que conta com regravações para composições de João Gilberto ("Bim Bom"), Roberto e Erasmo Carlos ("Gatinha Manhosa"), que deixa de ser uma canção de amor para uma garota e vira uma canção carinhosa para uma gatinha bem felina e ronronante mesmo.

Há ainda uma surpreendente versão para "Alexandre", de Caetano Veloso, canção do seu disco "Livro" com uma letra quilométrica que narra a saga épica de Alexandre, o Grande. A letra faz menções homoeróticas à vida de Alexandre. Como será que os papais e mamães vão se virar para explicar aos pimpolhos versos que falam do relacionamento de Alexandre "com Hefestião, seu amado"?

O lado mais erudito de Adriana também se faz presente no disco, na versão do "Trenzinho do Caipira", de Heitor Villa-Lobos, que ganhou letra do poeta maranhense Ferreira Gullar.

Enfim, Partimpim Dois está aí. Recém-lançado, quentinho na boca do forno. O que vocês estão esperando?

Agitos do Antigo Egito

- Avisem Cleópatra que Marco Antônio está em reunião com Otávio!