23 de junho de 2009

DVD: O Tempo Que Resta (2005), de François Ozon

O Tempo Que Resta é outro belo trabalho de François Ozon, o mesmo diretor do ótimo À Beira da Piscina, em que a veterana Charlotte Rampling deu-nos o melhor desempenho de sua carreira.
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Este filme tem uma trama muito simples: mostra-nos o modo como um homem condenado lida com o tempo, quando o tempo que resta a ele é pouquíssimo. Romain (Melvil Poupaud) é um fotógrafo profissional, gay assumido, de 31 anos, boa-pinta e arrogante, que descobre ter um câncer inoperável. O médico lhe dá um prazo de poucos meses de vida.
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Ele, claro, sofre bastante, mas não conta nada para os pais (amorosíssimos) nem para a irmã, sua melhor amiga desde a infância, que é hostilizada verbalmente por ele, numa cena particularmente cruel. Ele expulsa também o namorado de sua vida, sem maiores explicações. Da família toda, só desabafa para a avó (Jeanne Moreau, sempre magnífica) que, segundo ele, é a única capaz de entendê-lo pois está "também próxima da morte". Os diálogos confessionais entre Jeanne e Poupaud são o ápice emocional do filme, mas há alguns outros grandes momentos, como as cenas que envolvem um casal que não pode ter filhos.
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É claro que com um tema destes, o filme poderia ser difícil, um tanto melodramático demais. Mas não é. O tratamento dado por Ozon é avesso ao sentimentalismo barato. De certa forma, o tema e o tom de O Tempo Que Resta lembra-nos o de Viver, obra-prima de Akira Kurosawa, que mostrava um funcionário público acossado pela morte próxima, repensando toda a sua existência tida por inútil e buscando finalmente um sentido para viver.
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Romain mergulha em si mesmo, relembra a infância, mas não está muito disposto a lidar com os outros. Ele quer a solidão. Tem horas que decide espernear e faz o que lhe der na telha. Com consequências dolorosas para aqueles que o cercam. A meu ver ele não aguentaria ser tratado como coitadinho por ninguém. .

O filme é denso, ao tratar sobre a morte faz pensar sobretudo na origem da vida (crianças fazem Romain lembrar da própria infância) e na passagem do tempo. O desempenho de Poupaud é magnífico. Em O Tempo Que Resta cada segundo de filme é um tempo precioso.

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