3 de abril de 2009

Livro: Corydon, de André Gide

Gide: um dos grandes escritores franceses do século XX, infelizmente caído em esquecimento no Brasil atual, sem novas traduções e sem relançamentos por parte das nossas editoras. Suas obras só podem ser pescadas hoje nos sebos, com bastante sorte.

Os escritos de Gide já foram "a referência" literária, moral, estética, ensaística, crítica e filosófica de uma época. Ao elaborar uma lista pessoal, apontando os seus dez romances preferidos, o poeta Carlos Drummond de Andrade citou Os Moedeiros Falsos, de Gide, como uma de suas escolhas, entre outros grandes livros como As Ligações Perigosas, Dom Quixote, Ulisses, Em Busca do Tempo Perdido e A Cartuxa de Parma.

Corydon é um ensaio socrático, dividido filosoficamente em quatro diálogos entre dois amigos (um homossexual e um heterossexual) com um claro objetivo: demolir os preconceitos contra o homossexualismo. A princípio Corydon teve uma edição limitada, de pouquíssimos exemplares distribuídos apenas entre o círculo de amigos do autor. Quando finalmente foi lançado, por ser tão direto e tão incisivo em seu tema, Corydon foi tratado com frieza, pois tocava em tabus que a opinião pública evitava a todo custo. Foi só a partir da publicação do livro seguinte, Se o Grão Não Morre, um relato autobiográfico sobre a emancipação moral e sexual que Gide conseguiria escandalizar a sociedade francesa.

Vale lembrar que Gide fora amigo pessoal de Oscar Wilde, mas a recordação da dolorosa condenação de Wilde, longe de desencorajá-lo, acompanhará Gide e será decisiva: dará a determinação necessária ao autor para desafiar a opinião pública. Com seus argumentos brilhantemente controversos e deliberadamente afrontosos, Gide foi o primeiro a contrapor a literatura aos preconceitos de uma época, pondo a ênfase não tanto nas posições políticas, mas na arte do autor.

Em 1947, Gide parou de escrever, mas nunca renegou nada do que escreveu. Corydon permanece como seu livro mais engajado e menos bem-sucedido. O escritor faturou diversos prêmios, entre eles o Nobel de literatura, e obteve o reconhecimento de instituições conservadoras, o que o levou a declarar que tinha razão quando defendia a virtude da minoria.

Outro motivo para se ler Gide, além das razões mais óbvias como a sua indiscutível grandeza literária ou seu teor homoerótico: a sua obra integra o índex de livros proibidos pelo Vaticano desde 1952.

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