14 de abril de 2009

Mário Faustino: O homem e sua hora

A obra de um dos maiores poetas brasileiros padece de um problema sério: é praticamente desconhecida. Trata-se de um poeta erudito, com um quê de profético tanto em sua curta vida quanto em sua magnífica poesia, marcada pela paixão (homoerótica) e pela atração pela morte, um de seus temas mais constantes.

A única explicação para o olvido de uma poética tão densa pode ser a seguinte: o piauiense Mário Faustino morreu muito precocemente (aos 32 anos), num acidente de avião no Peru, em 27 de novembro de 1962. Até então só havia publicado um livro de poemas, a sua grande estreia O Homem e sua hora (1955), livro relançado em 2004 pela Companhia das Letras.

Faustino era já bastante conhecido por sua coluna Poesia Experiência publicada no Jornal do Brasil de 1952 a 1958, lida por todos que faziam poesia neste país. Foi um dos primeiros críticos a apoiar as inovações do Concretismo, embora não renunciasse como os concretistas ao verso, que continuaria a cultivar genialmente em seus próprios poemas. Foi um crítico muito contundente contra os poetastros, definindo seus defeitos com argumentos cortantes, e exigia precisão, conhecimento de causa e domínio da palavra por parte de todos os fabricantes de versos.

O relançamento sua poderosa obra poética e crítica pela Companhia das Letras pode servir para formar novos leitores entre a atual geração. Há ainda Mário Faustino - uma biografia, lançada em Belém do Pará, excelente ensaio documentado e ilustrado para os que desejam se aprofundar no conhecimento da vida do poeta. A autora, Lilia Silvestre, narra em detalhes a formação intelectual, a erudição, a amizade com o filósofo Benedito Nunes, o trabalho como jornalista, o envolvimento passional com a poesia.

A biografia brilha ainda por não fugir a um assunto que muitos preferem evitar ao relatar a vida de escritores brasileiros famosos: a homossexualidade do poeta, que nela é tratada com atenção e delicadeza. Mário Faustino era discreto, mas assumido. Vivia com um rapaz. Este nunca se envolveu com outro homem após a morte do poeta. Casou-se com uma mulher. Na entrevista reafirma a importância da relação que tiveram para sua vida pessoal: "Eu amava o Mário".


Sinto que o mês presente me assassina,
As aves atuais nascem mudas
E o tempo na verdade tem domínio
Sobre homens nus ao sul de luas curvas.
(Mário Faustino)

Um comentário:

  1. San, este é um dos textos seus mais elegante e delicado que já li. Parabéns!

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