27 de março de 2009

Clássico: A Noiva de Frankenstein


Filmes antigos de terror podem parecer a muita gente, na atual era da ironia, o supra-sumo da tosqueira em forma de cinema. Mas na verdade, basta uma revisão destes filmes, como os clássicos Drácula (1931), com Bela Lugosi no papel do vampiro mais famoso do cinema, ou O Lobisomem (1941), com Lon Chaney Jr. para percebermos que tosqueiras mesmo são as releituras paródicas feitas recentemente no gênero, como o terrível Van Helsing (2004), com sua constrangedora profusão de monstros e efeitos visuais caricatos e duvidosos tentando substituir uma boa história.

Muitos jovens cineastas de Hollywood julgam que estão em vantagem sobre os velhos filmes em preto e branco por disporem de uma infinidade de técnicas e efeitos digitais impensáveis na época destes clássicos. Mas a técnica, por mais avançada que seja, nunca é garantia de bom cinema. Sabemos que um filme é memorável quando suas imagens não apenas reverberam sobre a cultura, mas por penetrarem no imaginário popular. Grandes filmes, por mais parodiados ou imitados que sejam, tornaram-se mitologia, não as ruínas de uma outra época, mas obras atemporais, que atravessam todas as épocas, inclusive a nossa e outras porvir. Filmes que apenas hiperbolizam clichês como Van Helsing já nascem ultrapassados pelos clássicos que supostamente reciclariam.

A Noiva de Frankenstein (1935) é a obra-prima de James Whale, cineasta que viveu seus últimos anos totalmente retirado de Hollywood, período em que se dedicava à pintura e no qual supostamente teria desenvolvido um relacionamento com seu jardineiro. Sua vida nesse período foi retratada no curioso Deuses e Monstros (1998), com sir Ian Mckenlen no papel de Whale. Um dado curioso a respeito do clássico A Noiva de Frankenstein é que Whale não queria fazê-lo de jeito nenhum. Só acatou as pressões dos produtores para realizar uma continuação de seu Frankenstein (1931) depois que recebeu carta-branca do estúdio para assumir o controle absoluto do filme.

O resultado é único, divertido, pungente, hilário, cheio de subentendidos sexuais, maliciosas ironias nitidamente gays, tudo isso funciona ainda como uma delicada parábola existencial sobre a solidão, o desterro, a falta de amor e amizade, a busca de um refúgio e a discriminação da sociedade, notavelmente retratada por Whale como a vilã do filme, com os habitantes do vilarejo sempre perseguindo e acuando o monstro.

Por sob a simplicidade de sua história, Whale põe em cena uma visão subversiva de temas polêmicos como religião, necrofilia e homossexualismo, realizando um dos melhores filmes - não apenas do seu gênero - mas de todos os tempos.

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