10 de março de 2009

Angels in America: Ironias à parte

A parte mais irônica da peça Angels in America não foi mostrada na minissérie dirigida por Mike Nichols para a TV americana, em 2003. Tratava-se do destino (póstumo) do diabólico advogado Roy Cohn, interpretado na série por Al Pacino.

Na peça Cohn era convocado para defender Deus Pai Todo-Poderoso (brilhantemente) da ação que os anjos celestiais decidiam mover contra o Senhor.

A série televisiva acabava logo antes desse episódio. Da ironia final de Cohn nada tivemos. Ficava apenas a sugestão: os anjos recebiam a sugestão do profeta de que processassem o Senhor por ter abandonado céus e terras. O julgamento não vimos. De Juízos Finais nada tivemos no fim desta bela peça fim-de-milênio, repleta de presságios apocalípticos.

O Roy Cohn de Pacino era o personagem mais exuberante da minissérie. De uma exuberância negativa, diga-se. Ele tocava num ponto ferino ao despejar argumentos contra o próprio homossexualismo: lembrava do desprestígio dos homossexuais como minoria despolitizada e de sua consequente vitimização por uma sociedade que os abominava e marginaliza. E argumentava que ele, um lutador, um vencedor, que cavara sua carreira vitoriosa a ferro e fogo, jamais contrairia uma doença de criaturas derrotadas e fracas. Era um discurso chocante, em que Cohn usava mão de toda sua retórica profissional para desmentir o diagnóstico dado por seu médico, verdadeira sentença de morte naqueles tempos (os anos 80).

O trabalho de Pacino foi premiado. Ele estava realmente impecável. Pena que não tivemos o desfecho original. Mas ainda assim, a minissérie funcionava.

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